Segundo single de Abayomi resgata raízes africanas do cantor
“D’África” estreou em 17 de novembro em todas as plataformas digitais, e conta com clipe no YouTube. Faixa é um feat com Márcio Vitor – vocalista do Psirico e um dos maiores percussionistas do Brasil
O cantor e compositor Abayomi, lançou nesta quinta-feira, 17 de novembro, em todas as plataformas digitais, via ONErpm, o segundo single que antecipa seu disco de estreia, intitulado “D’África”. A faixa, é um feat com Márcio Vitor, que assume a percussão do single – uma vez que além de vocalista do grupo Psirico, o artista é um dos maiores percussionistas do Brasil, tendo trabalhado com Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Marisa Monte, João Bosco, Timbalada e diversos artistas internacionais.Já no clipe – que chega ao YouTube na mesma data, às 19h– ainda é possível ver Marcio Vitor tocando timbal. O vídeo, gravado em Salvador (BA), ainda conta com a participação de um dos principais nomes da arte das tranças e turbantes, além de líder religiosa do candomblé – Negra Jhô, Seu Zé – pescador local, e tem coreografia de Dudé (professor de dança afro e que esteve em um dos clipes do Baco Exu do Blues). Alguns cortes do clipe foram gravados na tradicional Barbearia Moarci, localizada no Pelourinho.Para o lançamento da faixa, que celebra as origens africanas do cantor e ainda é repleta de elementos de afrobeat, Abayomi preparou, juntamente com sua prima de primeiro grau – Semaya Oliveira – um manifesto que aborda todo este contexto musical e social da nova música, uma vez que a proximidade entre os dois faz com que suas histórias se confundam em diversos momentos.
Confira abaixo o manifesto
Por Semaya Oliveira
Hoje eu solto no mundo a música D’África, uma composição que me traduz e me conduz adiante. Meu nome é Gabriel Abayomi da Silva Brito. Herdei o Silva da família de minha mãe e o Brito, do meu pai. Se você me perguntar a origem de cada um deles, não sei te responder. O processo escravista tirou dos meus antepassados o direito de conhecer nossas origens. Esta é uma das marcas deixadas pela colonização portuguesa: o desenraizamento. Mas os filhos e filhas de um povo que luta não esmorecem nunca. Nossas referências foram remontadas. As minhas, aprendi ouvindo os ensinamentos daqueles e daquelas que vieram antes de mim. Recebi amor, cuidado e educação de pessoas que honram o fato de carregarmos a pretitude na pele, mente e no coração. Como faróis, meu pais, avós, avôs, tias e tios nunca me permitiram ignorar o elo que me conecta a África. É por isso que o nome Abayomi, palavra yorùbá, está no meu registro de nascimento. Em yorùbá, ‘omi’ significa água. Nos terreiros de candomblé, ou ylê, também em yorùbá, este é o elemento da vida, do acalanto, da cura, da fecundidade. Foram as águas do mar que nos trouxeram até aqui e é também nas águas que nos banhados de ervas, pescamos os alimentos e oferecemos presentes às divindades africanas. É por isso que a música D’África tem cheiro, som e a energia do mar. O videoclipe foi gravado na Bahia por este ser um dos lugares que me remete à minha ancestralidade. É a origem do samba, onde nasceu a primeira casa de asé, de onde os batuques ressoam com força ainda hoje. A vibração do canto, da dança e da energia de lá me lembra da minha família. Da força dos nossos encontros, da resistência da minha avó Gabriela, da persistência do meu avô Geraldo. Do quanto eles lutaram para nos manter unidos e conscientes. Tudo o que escrevo neste trabalho é resultado do que aprendi com a sabedoria dessas pessoas. Me lembro de como minha tia, Maria Lúcia da Silva, trouxe o movimento negro brasileiro para nossas festas de domingo e me vestiu com batas africanas ainda criança. Sou fruto deste lugar e é isso que me faz livre. Com este trabalho, busco compartilhar um pouco da minha e da nossa história. É um abraço, um aviso, um chamado. Ei, preto. Ei, preta, ainda tentam nos apagar. Negam nossos direitos. Nos matam diariamente pelas balas dos fuzis, pela fome, pela ausência de assistência médica, pelas ofensas e violência psicológica. Mas nunca esqueça: você tem uma raiz. Ela é forte, é vibrante e exige luta. O caminho ainda é longo, mas deixar de caminhar não é uma opção. Durante esse percurso, eu preciso de você e você precisa de mim.
Ona mi lati daabobo ominira ni lati ja. Minha maneira de proteger a liberdade é lutar.